quarta-feira, maio 12, 2004
CREMASTER de Matthew Barney
Pronto, já não vou falar do ciclo cremaster que parece ter invadido a blogosfera alternativa cá do burgo e arredores. Splash blogosférido portanto. A coisa não foi para menos. Entre deleite e sofrimento, mais este último do que o primeiro, que abateu várias hostes de meninos e meninas alternativas, o cinema King, em Lisboa passou a integral do ciclo cremaster do artista plástico Mathew Barney. Experiência aterradora e desconfortável, os filmes de Barney de duração variável, desde os 40 minutos do cremaster 1 (fabuloso exercício de pregidistação asséptico-kitsh, como se Kubrick tivesse chocado com um dirigível cheio de purpurina) às infernais 3 horas do alucinado cremaster 3 (para muitos o opus de Barney), arrasam, com um só golpe, a consciência crítica do espectador e obrigam-no a mergulhar num mundo diferencial e paralelo à existência, ferindo-o, exortando-o ao caos, à destruição original da forma. Barney, na sua obra, mistura o sintético e o artificial, o simétrico e o disforme, conjugando a alternância de estados na transmutação da forma e, consequentemente do conteúdo. Próximo de algumas referências cinematográficas, (Kubrick, Greenaway, Jarman, Cronemberg), Barney procede à fusão sincrética da obra de arte, amalgamando no seu trabalho os mais variados conceitos e formas de representação, juntando o cinema, o video, as artes plásticas, a performance, a música e a dança, realizando experiências esteticamente avassaladoras, até à destruição do sentido original da forma e do corpo. Profundamente sexuado, a obra de barney orienta-se no entanto para um estado assexuado, onde se torna insignificante a divisão em géneros sexuais estabelecidos,procurando antes a fusão do corpo com o objecto sintético (como por exemplo a mulher com pernas de vidro, no cremaster 3) transformando-se no resultado dessa mesma fusão, para além da forma original estabelecida e nele se significando sem limite, para além da diferenciação sexual. Horrível, visceral, orgânico, e contudo capaz de arrojos estéticos magníficos (de salientar a presença do escultor Richard Serra, no topo da cadeia iniciática, no místico cremaster 3), e de inesquecíveis composições poéticas (as planícies de sal, as costas batidas pelas águas da ilha de Man, as geometrias fabulosas dos banhos de Budapeste), Matthew Barney conduz-nos, através de uma megalomania aparentemente demente aos limites da percepção possível. E é da agonia que depois partimos para a aventura da forma e para o seu seu significado. Uma nota final para o meu cremaster preferido (o cremaster 5) com a presença do rosto gélido e magnifico de Ursula Andress, na lasciva ópera de morte que Barney realizou, onde a música composta por Jonathan Bepler, de um lirismo visceral nos acompanha às profundezas da morte, e aí se liberta, como a queda num rio, no suícidio anunciado do amante. Fabuloso e inesquecível. Ame-se, mas principalmente odeie-se Barney, pelo que nos faz amar.
Pronto, já não vou falar do ciclo cremaster que parece ter invadido a blogosfera alternativa cá do burgo e arredores. Splash blogosférido portanto. A coisa não foi para menos. Entre deleite e sofrimento, mais este último do que o primeiro, que abateu várias hostes de meninos e meninas alternativas, o cinema King, em Lisboa passou a integral do ciclo cremaster do artista plástico Mathew Barney. Experiência aterradora e desconfortável, os filmes de Barney de duração variável, desde os 40 minutos do cremaster 1 (fabuloso exercício de pregidistação asséptico-kitsh, como se Kubrick tivesse chocado com um dirigível cheio de purpurina) às infernais 3 horas do alucinado cremaster 3 (para muitos o opus de Barney), arrasam, com um só golpe, a consciência crítica do espectador e obrigam-no a mergulhar num mundo diferencial e paralelo à existência, ferindo-o, exortando-o ao caos, à destruição original da forma. Barney, na sua obra, mistura o sintético e o artificial, o simétrico e o disforme, conjugando a alternância de estados na transmutação da forma e, consequentemente do conteúdo. Próximo de algumas referências cinematográficas, (Kubrick, Greenaway, Jarman, Cronemberg), Barney procede à fusão sincrética da obra de arte, amalgamando no seu trabalho os mais variados conceitos e formas de representação, juntando o cinema, o video, as artes plásticas, a performance, a música e a dança, realizando experiências esteticamente avassaladoras, até à destruição do sentido original da forma e do corpo. Profundamente sexuado, a obra de barney orienta-se no entanto para um estado assexuado, onde se torna insignificante a divisão em géneros sexuais estabelecidos,procurando antes a fusão do corpo com o objecto sintético (como por exemplo a mulher com pernas de vidro, no cremaster 3) transformando-se no resultado dessa mesma fusão, para além da forma original estabelecida e nele se significando sem limite, para além da diferenciação sexual. Horrível, visceral, orgânico, e contudo capaz de arrojos estéticos magníficos (de salientar a presença do escultor Richard Serra, no topo da cadeia iniciática, no místico cremaster 3), e de inesquecíveis composições poéticas (as planícies de sal, as costas batidas pelas águas da ilha de Man, as geometrias fabulosas dos banhos de Budapeste), Matthew Barney conduz-nos, através de uma megalomania aparentemente demente aos limites da percepção possível. E é da agonia que depois partimos para a aventura da forma e para o seu seu significado. Uma nota final para o meu cremaster preferido (o cremaster 5) com a presença do rosto gélido e magnifico de Ursula Andress, na lasciva ópera de morte que Barney realizou, onde a música composta por Jonathan Bepler, de um lirismo visceral nos acompanha às profundezas da morte, e aí se liberta, como a queda num rio, no suícidio anunciado do amante. Fabuloso e inesquecível. Ame-se, mas principalmente odeie-se Barney, pelo que nos faz amar.
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