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sexta-feira, julho 23, 2004


A BARATA
 
Hoje, ao acordar, encontrei uma pequena barata morta entre os lençóis. Ontem, caiu-me em cima do peito A Metamorfose, do Kafka, arremessado com violência da prateleira por um Proust pesado e enciumado. Antes de ontem recomecei a minha leitura de a Paixão de G. H., esse fabuloso livro da Clarice Lispector. Tudo livros com baratas. Como não acredito em lirismos fortuitos e cruzamento de coincidências quotidianas como metáforas da existência, hoje vou dedicar-me a limpar o pó, a arrumar o armário dos sapatos e a renovar a luz dentro das caixas de cartão com fotografias. Ainda assim, pequei no pequeno Gregor com os dedos e deitei-o pela janela fora, com algum remorso. 


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