<$BlogRSDURL$>

quinta-feira, maio 13, 2004

Perry Blake
Songs for someone

Títulos:
01/ We are not stars
02/ When i'm over you
03/ Lies, lies, lies
04/ The fox in the winter
05/ Ava
06/ Songs for someone
07/ You're not alone
08/ Native new yorker
09/ Tropic of cancer
10/ Travelling
11/ We couldn't decide
12/ The end of the affair
13/ Coming home


Já ouvi o novo disco do Perry Blake sacado directamente do soulseek para o coração. Confesso ter um amor inabalável pela música e pela voz deste homem, roçando a paixão. Fosse ainda adolescente e passaria tardes inteiras em enlevos homoeróticos com a voz de Blake, roçando as capas dos discos na pele trémula dos dedos, imitando às escuras as inflexões de falsete do irlandês, imaginando-me narcisicamente no palco, transformado em crooner borbulhento, pose decadente, metamorfoseado em lírico existencial, um sedutor de roupas de veludo. Passada a paixão que me provocou o primeiro e segundo álbum (“Perry Blake e “Still Life”), alcancei o estado amoroso eterno (já livre das tentações da carne) com o poço de beleza em que “Broken Statues” nos afunda. O primeiro arrufo, que surgiu com o “Califórnia” (álbum perverso de Blake na sua aparente ligeireza e que agora amo como os outros), depressa terminou e encontro-me de novo à mercê da pop sinfónico-lírica-barroca-nostálgica de Perry Blake. E, apesar de não se encontrar espinhos de beleza incrustados em canções como Blackbird, Genevieve ou The Hunchback of San Francisco, Songs for someone contém músicas cuidadosamente embrulhadas num tecido cristalino que penetram sob a superfície da pele e nos percorrem as veias, devagarinho, até ao deleite e à rendição, como Ava ou The Fox In The Snow. Algures entre o romantismo carregado de still Life e as melodias e os arranjos envenenados de Califórnia, Perry Blake regressa com um álbum destinado a recuperar amores perdidos e a fazer perder aqueles que, por um motivo qualquer, nunca se perderam. Ah, e vale a pena esperar para ouvir a faixa escondida do disco, e ouvir Perry Blake cantar, em estado de nudez: She´s beautiful, so beautiful, She´s beautiful and She´s mad, She´s beautiful, So Beautiful, She´s beautiful and She´s Sad, la la la lala la la lalala la la la la



quarta-feira, maio 12, 2004

CREMASTER de Matthew Barney


Pronto, já não vou falar do ciclo cremaster que parece ter invadido a blogosfera alternativa cá do burgo e arredores. Splash blogosférido portanto. A coisa não foi para menos. Entre deleite e sofrimento, mais este último do que o primeiro, que abateu várias hostes de meninos e meninas alternativas, o cinema King, em Lisboa passou a integral do ciclo cremaster do artista plástico Mathew Barney. Experiência aterradora e desconfortável, os filmes de Barney de duração variável, desde os 40 minutos do cremaster 1 (fabuloso exercício de pregidistação asséptico-kitsh, como se Kubrick tivesse chocado com um dirigível cheio de purpurina) às infernais 3 horas do alucinado cremaster 3 (para muitos o opus de Barney), arrasam, com um só golpe, a consciência crítica do espectador e obrigam-no a mergulhar num mundo diferencial e paralelo à existência, ferindo-o, exortando-o ao caos, à destruição original da forma. Barney, na sua obra, mistura o sintético e o artificial, o simétrico e o disforme, conjugando a alternância de estados na transmutação da forma e, consequentemente do conteúdo. Próximo de algumas referências cinematográficas, (Kubrick, Greenaway, Jarman, Cronemberg), Barney procede à fusão sincrética da obra de arte, amalgamando no seu trabalho os mais variados conceitos e formas de representação, juntando o cinema, o video, as artes plásticas, a performance, a música e a dança, realizando experiências esteticamente avassaladoras, até à destruição do sentido original da forma e do corpo. Profundamente sexuado, a obra de barney orienta-se no entanto para um estado assexuado, onde se torna insignificante a divisão em géneros sexuais estabelecidos,procurando antes a fusão do corpo com o objecto sintético (como por exemplo a mulher com pernas de vidro, no cremaster 3) transformando-se no resultado dessa mesma fusão, para além da forma original estabelecida e nele se significando sem limite, para além da diferenciação sexual. Horrível, visceral, orgânico, e contudo capaz de arrojos estéticos magníficos (de salientar a presença do escultor Richard Serra, no topo da cadeia iniciática, no místico cremaster 3), e de inesquecíveis composições poéticas (as planícies de sal, as costas batidas pelas águas da ilha de Man, as geometrias fabulosas dos banhos de Budapeste), Matthew Barney conduz-nos, através de uma megalomania aparentemente demente aos limites da percepção possível. E é da agonia que depois partimos para a aventura da forma e para o seu seu significado. Uma nota final para o meu cremaster preferido (o cremaster 5) com a presença do rosto gélido e magnifico de Ursula Andress, na lasciva ópera de morte que Barney realizou, onde a música composta por Jonathan Bepler, de um lirismo visceral nos acompanha às profundezas da morte, e aí se liberta, como a queda num rio, no suícidio anunciado do amante. Fabuloso e inesquecível. Ame-se, mas principalmente odeie-se Barney, pelo que nos faz amar.
 



sexta-feira, maio 07, 2004

osdiasfelizes afundam na areia.qual é o interesse de uma vida que me obriga a trocar dois belos bilhetes grátis para o concerto dos mum na Aula Magna por uma montanha de pápeis insignificantes com palavras insignificantes por motivos insignificantes? uma corda e uma árvore condigna, sff.

domingo, maio 02, 2004

Coelhos, Asfalto e melancolia


"The Brown Bunny", de Vincent Gallo


Ora aqui está uma proeza da qual poucos se conseguirão gabar; por a América no umbigo e ainda receber uma sessão de sexo oral da Chloe Sevigny e colocar toda a gente (intelectuais com óculos de aros pretos, críticos de cinema regionais, meninas em anseio de desfloração e velhinhas apanhadas de surpresa, entre outras categorias prováveis) a falar disso. E o filme é bom? não mas poderia ser se não estivesse contaminado pelo seu autor. É que temos de levar com vincent gallo até à exaustão. O filme é o corpo de gallo, as expressões sofridas de gallo, os cabelos de gallo, o gallo a conduzir, a lavar a cara em casas de banho de serviço, o gallo a andar de mota, o gallo a conduzir novamente, o galo em sofrimento existencial, os cabelos de gallo, o pénis de gallo, a melancolia de gallo, a solidão de gallo. Não fosse esta contaminação artificial, em pleno exercício narcisista de auto felação ( a Chloe Sevigny só entra para disfarçar) o filme poderia ser uma contemplação incisiva da solidão de um homem em travessia e em perda por uma América crua e desolada. assim, com gallo a transbordar do seu ego, o espectador sente-se invadido por um corpo que lhe é estranho. gallo é um sofredor mas o sofrimento dele, dandy, bacoco, estudado, não nos atinge, exceptuando umas quantas rapariguinhas em cio e em desvelo erótico sentimental. sim, o filme tem algumas coisas boas, mas é quando gallo nos salta para fora da vista ( como por exemplo quando gallo se afasta de moto, pelo deserto de sal, numa das sequências mais bonitas do filme), quando o asfalto se enche de música crepuscular e nos é devolvido o olhar. Exercício de melancolia artificial e trabalhada, o filme sofre por essa fabricação dramático-existêncial de um homem em desespero interno. Quanto à já famosa cena da felação diga-se que só é estragada pela voz de falsete melancólica irritante de gallo. O homem tem um pénis competente (a metáfora do coelho não é certamente sexual) e a Chloe Sevigny consegue o milagre de tornar a cena incrivelmente intensa e crua. fora isto temos o vazio de um homem que quer ser mais do que o seu pénis. alguém se lembra a melhor forma de comer um coelho de chocolate sem enjoar?

This page is powered by Blogger. Isn't yours?